Na tarde desta quarta-feira (4), houve uma audiência pública em Santa Maria sobre o acesso à cannabis medicinal. Embora pesquisas investiguem a aplicação de compostos de cannabis para tratamento de doenças, a incorporação em políticas públicas de saúde, especialmente na saúde mental, exige cautela.
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Revisões sistemáticas, como as publicadas no The Lancet Psychiatry, indicam a ausência de evidências científicas que comprovem a eficácia e segurança da cannabis para as condições psiquiátricas. Pelo contrário, há evidências consistentes de que a potência desses compostos pode ser um fator de risco para o aumento de casos de psicose, depressão, ansiedade e suicídio.
Diante dessa lacuna, torna-se inviável realizar uma análise de custo-efetividade que justifique o investimento público em larga escala. Sem dados concretos sobre os benefícios reais para os pacientes em comparação aos tratamentos já estabelecidos, a adoção generalizada poderia representar um desperdício de recursos públicos. Esses recursos seriam melhor empregados em intervenções com comprovada eficácia e impacto na saúde mental da população, além de representar um risco. A prioridade deve ser o fomento a pesquisas de alta qualidade antes de qualquer decisão sobre financiamento público para a dispensação dos compostos de cannabis.
Legalização de apostas e o aumento dos transtornos de jogo
A expansão da legalização das apostas online, especialmente as esportivas, tem gerado preocupações significativas sobre a saúde pública. Um artigo recente no JAMA, “The Hidden Health Costs Associated With Legalized Sports Gambling”, discute o aumento nos transtornos relacionados ao jogo e os custos sociais associados.
Estudos indicam um crescimento na procura por ajuda para o vício em jogos após a legalização, sobrecarregando os serviços de saúde mental. Os custos sociais do jogo problemático são vastos, incluindo dificuldades financeiras, problemas de relacionamento, impacto na saúde mental (ansiedade e depressão) e, em casos extremos, criminalidade e suicídio. Esses dados alertam para a necessidade de políticas de prevenção e regulação mais eficazes para mitigar os danos decorrentes da maior acessibilidade aos jogos de azar.
TDAH e turno escolar:impacto no desempenho escolar de crianças e adolescentes
Existe um debate sobre se o turno escolar (manhã ou tarde) impacta o rendimento acadêmico e se crianças e adolescentes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) teriam melhor desempenho no período da tarde.
Resultados de nosso grupo de pesquisa, com 2.240 estudantes brasileiros de 6 a 14 anos, mostram que crianças e adolescentes com sintomas intensos de TDAH não apresentaram melhor desempenho em testes de leitura e escrita no turno da tarde. O que identificamos foi que o turno da manhã, por si só, já poderia impor um limite ao rendimento escolar dos alunos de forma geral. Assim, o impacto adicional dos sintomas de TDAH não se tornaria tão evidente, pois o próprio período matutino já representaria uma dificuldade.
Do ponto de vista prático, esses resultados sugerem que simplesmente transferir alunos com TDAH do turno da manhã para o turno da tarde pode não ser uma solução eficaz para melhorar seu desempenho educacional. O TDAH requer diagnóstico e tratamento prescritos por profissionais habilitados, que, quando realizados de maneira adequada, podem minimizar o impacto educacional causado por esse transtorno.